Luke Skywalker e a Jornada do Herói

Foto: JD Hancock

Foto: JD Hancock

Esta semana estreia o episódio 8 da saga Star Wars. Assim como muitos da minha geração, sou um grande fã da aventura vivida por Luke Skywalker para salvar a galáxia e estou surpreso com toda a movimentação que antecede o lançamento deste ano. O sucesso do episódio anterior, há dois anos, que atingiu em cheio uma nova geração de fãs, somado à fantástica máquina de marketing da Disney representam grande parte da explicação deste fenômeno, mas hoje vou discutir um outro fator que o criador da série, George Lucas, explorou muito bem nesta revolução, não só do cinema, mas da cultura de uma geração inteira.

Para entender este fator, volto ao passado e me lembro da primeira vez que assisti o primeiro filme, posteriormente batizado de Star Wars – Uma nova esperança, aos 14 anos de idade. Além dos efeitos especiais, toscos, mas revolucionários na época, a ideia de trazer um faroeste espacial, estilo capa-e-espada (a laser), envolto na aura mística de uma filosofia misteriosa – a ordem Jedi  – reúne mais inovações do que os estúdios eram capazes de assimilar, por isso não foi fácil para Lucas conseguir encontrar um estúdio que apostasse tão alto em uma ideia original, mas absolutamente incerta.

O enredo era simples, mas justamente pela sua simplicidade foi fácil de ser absorvido como entretenimento. Entretanto, mais do que simples, a história tinha uma lógica extremamente cativante, à qual adolescentes, como eu, ficaram maravilhados e imediatamente atraídos. Vejam se não tenho razão: um jovem comum com uma vida monótona e sem muitas perspectivas se vê repentinamente envolvido em uma aventura. No começo tem medo e rejeita o chamado, mas encontra um mentor que se oferece para guia-lo. Em sua caminhada, encontra dificuldades, fracassa e chega a desistir, no entanto, passa pela provação suprema e ressurge com mais força, para superar as forças do mal e devolver a paz ao mundo.

Esse roteiro básico foi inspirado no trabalho do mitologista americano Joseph Campbell, que criou o arquétipo do herói, um padrão de comportamento ou de pensamento, representado na forma de símbolos estereotipados em diversas manifestações mitológicas. Este padrão acabou se tornando um recurso muito usado na literatura e por roteiristas de contos e filmes de aventura. Reveja alguns sucessos do cinema como Harry Potter, Matrix, O senhor dos anéis, Jogos vorazes e Batman e você perceberá o mesmo padrão, conhecido universalmente como a Jornada do Herói.

Usamos na Polifonia a mesma metáfora para explicar a jornada do protagonista. Usando técnicas de Storytelling, os participantes repassam a sua jornada de vida e procuram se localizar em um dos 12 estágios da jornada do herói. A compreensão da jornada como um todo e a capacidade de se encontrar nesta trajetória é um exercício de autoconhecimento fundamental para o desenvolvimento do protagonismo.

Fonte: Heroisemitos.com.br

Fonte: Heroisemitos.com.br

O mito do herói é uma metáfora porque você não vai literalmente batalhar contra o mal, derrotar monstros ou aprender a manejar um arco, uma varinha ou um sabre de luz. Nesta metáfora, todos nós estamos em uma jornada, ou várias (a jornada é cíclica), em busca de alguma coisa que valha o esforço. Sucesso, talvez?

Imaginemos que o sucesso representa o fim da jornada. Em primeiro lugar, é importante saber que isso nem sempre é verdadeiro, até porque não sabemos onde e quando a jornada se encerra, mas também porque a definição de sucesso é muito subjetiva e particular para cada indivíduo. Para fins de exercício de reflexão, vamos assumir este pressuposto: o sucesso é o fim da jornada, o elixir, a recompensa. Se estamos passando por uma dificuldade no momento, ou até mesmo se vivenciamos um grande fracasso recentemente como um negócio falido, uma demissão ou um divórcio, talvez este não seja o fim da jornada ainda. Talvez este seja ainda o estágio 5, em que atravessamos o primeiro limiar, uma fase de encontrar com si mesmo. De uma forma ou de outra, sabemos que ainda não estamos no fim do caminho e que é esperado que nossa jornada passe por barreiras e dificuldades, a caverna do estágio 7 e que vamos precisar de recursos e reforçar nossos relacionamentos para nos fortalecermos para o resto da jornada.

Neste estágio estamos preparados para enfrentar as dificuldades novamente, as verdadeiras provações do estágio 8, mas dessa vez melhor preparados para vencer, pois estamos mais maduros, mais experientes, levantamos o capital necessário, conhecemos as pessoas certas, o risco ainda é grande, mas estamos mais equipados para lidar com eles. Vencer essas barreiras pode ser equivocadamente comparado com o sucesso, mas a jornada ainda passa pela necessária reinvenção de si. É nesta reinvenção que incorporamos o processo vivido na aventura em um despertar de consciência.

O herói encerra sua jornada mais consciente de si. Seu olhar sobre a realidade à sua volta se transforma. Sua percepção fica mais afiada e sua capacidade de discernir fica mais acurada. Ele cresce e evolui, de forma a não se comparar mais com o indivíduo que havia iniciado a jornada. Tudo isso para novamente ser colocado à prova ao começar o ciclo novamente com a chegada de outro chamado.

Não existe um posicionamento etário nesta jornada, ou seja, pode ser que o seu chamado para a aventura aconteça aos 54 anos de idade, assim como pode ser que você já tenha embarcado em 10 aventuras ao longo da sua existência. Assim, esteja alerta e atento para os sinais que evidenciam este chamado. Pode ser uma carta-convite como a que Harry Potter recebeu de Hogwarts, uma mensagem 3D escondida em R2D2 para Luke, um sorteio de tributo para Katniss ou um anel do poder descoberto por Frodo. Nem sempre o chamado é evidente e muitas vezes dizemos não para ele, seja por desconhecimento ou por medo.

Não tenha medo de embarcar em sua próxima jornada rumo ao autoconhecimento e autodesenvolvimento. Como dizia Campbell: ‘A caverna que você teme entrar pode conter o tesouro que você busca’.

 

 

Por Marcos Hashimoto

 

Co-fundador da Polifonia e Professor de Empreendedorismo na Universidade de Indianapolis - EUA, consultor de negócios e especialista em inovação corporativa.

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