A mágica das "soft skills"

Helio Oiticica - Metaesquema, 1959

Helio Oiticica - Metaesquema, 1959

Muito se fala hoje sobre o valor inestimável das soft skills. Do Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA (NRC) à UNESCO, passando pelo Fórum Econômico Mundial está à solta a ideia de que as habilidades "intangíveis" são as mais importantes para se ter no trabalho do século XXI. Será mesmo? 

Mas pera aí…. O que elas são, afinal?

Sem firulas: as soft skills são as inteligências emocionais, relacionais e comportamentais. E isso é basicamente tudo que está relacionado à nossa capacidade de pensar e agir, de ser sensível a obstáculos (sem ser paranoico!), de se comunicar, de liderar equipes com competência, de tomar decisões sábias (ou até de não tomar decisão alguma, à procura do melhor momento) e de ler as entrelinhas (o que não foi dito nem visto, mas está ali). 

E tem muita gente acreditando que essas habilidades são muito abstratas, pouco pragmáticas e que não levam a resultados concretos. "São como meditação ou florais de Bach que só servem pra quem não vive o mundo real", já escutei uma vez... Mas o axioma: "Empresas contratam por currículo e demitem por comportamento" é muito mais revelador da concretude e peso que as competências socioemocionais têm no sucesso ou fracasso de um profissional em qualquer área, inclusive autônomos. 

De acordo com uma pesquisa realizada com 2100 executivos estadunidenses pela Accountemps, 3 em cada 4 deles acreditam que funcionários não conseguem progredir em seu ambiente de trabalho por incapacidade de trabalhar esse tipo de inteligência.

Já deu pra ter uma dimensão do valor que isso tem nos dias de hoje? Pensando nisso, selecionamos aqui algumas das mais importantes pra você ir "trabalhando" no seu dia-a-dia.

1. É quase consenso por aí que comunicação é a habilidade mais essencial entre as soft skills. E “comunicar”, no caso, não se resume ao uso de palavras difíceis e rebuscadas. Tem muito mais a ver com exercitar a escuta (interna e externa), falar somente o necessário e ter empatia com o outro, criando um canal de comunicação em que a linguagem corporal e emocional é tão ou mais efetiva que a verbal. Mas também tem a ver com coisas mais técnicas como delegar tarefas, dominar a arte das narrativas (storytelling), transmitir ideias para a equipe com precisão e emoção, passar instruções com clareza (e confirmar se está sendo compreendido) e saber o tom certo para falar com cada público. 

2. Para o fenômeno da comunicação acontecer na sua potência máxima, é necessário uma outra habilidade que, na verdade, é muito mais um estado de espírito do que qualquer coisa: a presença. Hããã? Sim. A singela – mas quase inatingível – capacidade de estar no aqui, agora, disponível para tudo o que está sendo vivenciado, sem julgamentos imediatos, ansiedades ou com a mente em outro lugar. Esta é considerada pela escola holandesa THNK School of Creative Leadership como a habilidade de liderança mais fundamental.

3. Então, chegamos à soft skill que a Polifonia propõe desenvolver acima de todas as outras: a liderança. E não no sentido de mandar nos outros ou de ser o líder-herói que tem todas as respostas, mas de saber conduzir quem está próximo a grandes resultados por inspiração, legitimidade e competência, tendo espaço para experimentar novos caminhos, errar e ser vulnerável. Aqui na Polifonia chamamos isso de protagonismo: estar à frente de e não acima de.

4. Trabalho em equipe é outra habilidade que está nesse balaio. Saber coordenar a complexa dinâmica das relações interpessoais e conjugar suas habilidades com as de outras pessoas é vital para se atingir grandes resultados. Toda orquestra precisa de um maestro, e só pode ser um maestro quem conhece a sua maestria. Você conhece a sua? ;)

5 e 6. Assim como é importante gerir o próprio tempo e responsabilidades para dar conta das tarefas do dia-a-dia e, ao mesmo tempo, garantir uma necessária "folga" (slack, em inglês) para exercitar o pensamento estratégico, a serendipidade (traduzida como "o poder do acaso") e a criatividade, a habilidade de liderança mais importante, de acordo com uma pesquisa da IBM com mais de 1500 CEOs de 60 países e 33 indústrias. 

O mundo clama (e paga muito bem) por pessoas que tragam soluções originais… Afinal, "não existe uma fórmula para tudo", correto?

7. Por fim, mas não menos importante, a resiliência é uma competência que a sociedade do Smartphone está cada vez menos acostumada. Segundo a Wikipedia, "[...] resiliência é a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas", de forma a não atuar de maneira reativa ou resignada, agindo proativamente e prototipando soluções possíveis ao invés de tomar decisões de maneira imediata. 

Você atira para todos os lados? Pula de galho em galho para resolver os seus problemas? Isso pode ser um mau sinal ;) 

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Em resumo, o importante é prestar atenção às suas características emocionais, se autoconhecer profundamente e agir, a partir de tudo o que falamos, com coerência, propósito e efetividade.

Isso tudo não é nada óbvio, e é um grande desafio para ser resolvido. Não é por menos. Os mesmos 2.100 executivos da pesquisa da Accontemps acham que as empresas cometem um grande erro ao não oferecerem treinamentos que desenvolvam esse tipo de habilidades para seus funcionários.

Aqui na Polifonia, nos cursos VOZ, ORÁCULO e INVENTO e nos treinamentos e consultorias para empresas, trabalhamos profundamente as soft skills dos participantes porque acreditamos no imenso potencial transformador delas. É este olhar para um futuro mais orgânico e menos mecânico que achamos que irá mudar o mundo. 

E, para mudar o mundo, precisamos nos mudar primeiro. E aí? Se sente pronto?! 

Por Daniel Gurgel

Fundador da Polifonia e Especialista em Liderança Criativa

Polifonia